O MUNICÍPIO DE VERA CRUZ:
CULTURA, HISTÓRIA E MEMÓRIAS
Autor: Silvano Sulzart
A Ilha
de Itaparica foi emancipada do município de Salvador, capital do Estado da
Bahia, em 08 de agosto de 1833. Depois, atendendo à solicitação da população em
vistas ao descaso que alguns povoados vinham sofrendo, a ilha foi dividida
politicamente em dois municípios, sendo Vera Cruz elevada à categoria de cidade em 31 de julho de
1962, mediante a lei estadual nº 1.773, de 30.07.1962, publicada no Diário
Oficial em 31/07/1962. Vera Cruz ficou com aproximadamente 87% da faixa
territorial da Ilha e Itaparica com 13%. Estes 87% de área pertencente à Vera
Cruz significam uma extensão de 299.734 Km².
A população do Município de Vera Cruz é de
aproximadamente 42 mil habitantes, estimativa registrada pelo o IBGE/2015. Em
relação ao saneamento básico, muito ainda precisa ser feito no Município a fim
de alcançar a cobertura do esgotamento sanitário adequado, que é de 36%. No que
diz respeito ao abastecimento de água, 73% da população tem abastecimento de
água adequado, índice considerado superior à referencia do Estado, que é de
apenas 59%. Quanto ao destino adequado do lixo, o padrão se repete, atingindo
níveis mais elevados que os do Estado, determinados por 74% da população que já
recebe esse tipo de atendimento.
Vera Cruz é um município turístico que
apresenta características rurais. A natureza é o principal atrativo do
município que conta com inúmeras praias, alguns riachos e espelhos d’água que
retratam o verde do manguezal, fontes de água potável à beira-mar, restinga de
Mata Atlântica com trilha para o turismo de aventura e belos cenários para a
prática de esportes náuticos e paraquedismo. Sem dúvida, o turismo é uma das
principais alavancas da economia local, ainda que não exista nenhuma estrutura
organizacional para fortalecer o turismo.
Na lavoura permanente temos a produção de
banana, coco e manga. Na lavoura
temporária, temos a cana-de-açúcar e a mandioca. Na pecuária a produção de
bovinos é de pequena escala. Por seus aspectos geográficos, existe um
desenvolvimento acentuado da atividade pesqueira e seus produtos que, em sua
maior parte, são utilizados para alimentação da população local. Dentre as
espécies de mariscos comuns podemos citar: ostra, chumbinho, aratu, siri, caranguejo, sarnambi, polvo, lula, camarão, lagosta e os mais diversos
tipos de peixe. (Dados da Secretaria de Desenvolvimento Social/Agricultura e
Pesca do Município de Vera Cruz/2014)
Antes da chegada do sistema de abastecimento
de água encanada, a população de Vera Cruz era abastecida pelas águas dos rios,
lagos e poços que existiam na Ilha; nesta época a maioria dos rios da Ilha
tinha água potável. Era comum, até o inicio dos anos 80, encontrarmos na Ilha
os carregadores de água, que vendiam os barris de águas carregados por burros,
mulas ou cavalos. Outra possibilidade de ter acesso a água era através das
diversas fontes, cisternas e chafarizes, instalados nas comunidades, tais como:
O Chafariz da Fonte da Prata, Riachinho,
a Fonte da rua das Mangueiras, O
Sonrizal na região entre Berlinque e Aratuba, a Fonte dos Frades no Parque das
Mangueiras. Temos ainda uma infinidade de riachos que hoje encontram-se
soterrados, depredados, poluídos e sem utilização.
O processo de constituição de Vera Cruz não
foi uma tarefa fácil e aceita por todos. O projeto/proposta de emancipação
tramitou durante 15 (quinze) anos na Câmara Estadual dos Deputados, onde também
tramitava a solicitação da emancipação de outros municípios como o de Salinas
das Margaridas e Muniz Ferreira, sendo que todos estes tiveram suas
emancipações no mesmo dia, publicadas no Diário Oficial do Estado no dia 31 de
julho de 1962.
Após a emancipação política de Mar Grande,
que recebeu o nome de Vera Cruz, em homenagem a Nosso Senhor da Vera Cruz, cuja
Igreja localiza-se no Baiacu, construída no período colonial. No entanto, durante
anos, inúmeras tentativas foram realizadas no sentido de cancelar a emancipação
política de Vera Cruz, sem sucesso. Mesmo no inicio da década de 80 o município
de Vera Cruz ainda não possuía sede própria para o funcionamento da prefeitura
e muitos serviços essenciais para a população ainda eram realizados em
Itaparica.
Em 1962, ano da emancipação política de Vera
Cruz, o município não possuía Hospital nem Postos de Saúde. As escolas
funcionavam em casas alugadas e os alunos não ultrapassavam o processo de
alfabetização, aqueles que desejavam continuar os estudos tinham que estudar em
Itaparica ou Salvador. O transporte de Mar Grande para Itaparica era realizado
por cavalos e carroças em estradas de barro, cortando várias fazendas com
plantações de uva, abacaxi, laranja, manga, coco, abacate, caju e outras. Era
comum também a criação de gado.
Na Ilha, o sincretismo religioso e as
festividades católicas movimentavam as vilas de pescadores, atraiam os turistas
e davam vida ao lugar. Mães e Pais de Santos, pescadores e marisqueiras,
romeiros e turistas juntavam-se para celebrar os Santos Católicos e as
Divindades do Candomblé.
Em Mar Grande também encontramos as ruínas do
Antigo Hotel Casarão da Ilha, que está abandonado, mas foi inaugurado como
Hotel em 1984. Na época na reinauguração do Casarão como Hotel, o turismo local
movimentou-se, tendo em vistas que não existia ainda em Vera Cruz um Hotel
luxuoso e de grande porte. Muitos artistas, celebridades e autoridades se
hospedaram no Hotel Casarão da Ilha.
O município de Vera Cruz possui muitos
atrativos turísticos, especificamente suas praias que possuem águas limpas, sem
muitas ondas e inúmeras enseadas para banhos. As praias de Vera Cruz, cercadas
por recifes, são calmas, tranqüilas, ótimas para banho, natação, mergulho e a
prática de uma infinidade de esportes marítimos. As praias das comunidades de Gameleira,
Jaburu, Penha, Barra do Gil, Berlique, Aratuba e Cacha-Pregos são as mais
populares, atraindo turistas e banhistas da cidade de Salvador e das cidades do
Recôncavo.
A maioria das comunidades
que compõem o Município de Vera Cruz surgiu a partir das grandes fazendas da
Ilha. Com o passar dos anos, as fazendas foram perdendo a produtividade, o
turismo e a especulação imobiliária foram forçando os herdeiros a lotearem as
fazendas e até mesmo a concederem lotes de terras para antigos funcionários, que
permaneceram nas terras como rendeiros.
O Município de Vera
Cruz possui um patrimônio histórico arquitetônico importantíssimo, rico e
extraordinário. Dentre os legados históricos e contemporâneos encontramos
ruínas de várias igrejas, moinhos e casarões. Como a Caieira da Penha, a Igreja
do Sagrado Coração de Jesus, as Ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição,
as Ruínas da Igreja de Nosso Senhor da Vera Cruz, o Templo da Eubiose, Moinho
das Mercês, Cais Velho das Mercês, Igreja de Santo Amaro do Catu, a Ponte do
Funil, e o Sistema Ferryboat.