A
reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação
Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática,
ativismo. O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática
docente, reforçar a capacidade crítica
do educando, sua curiosidade, sua submissão. Uma de suas tarefas
primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem
se “aproximar” dos abjetos cognoscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem
nada que ver com o discurso “bancário”
meramente transferido do perfil do abjeto ou do conteúdo. Percebe-se, assim, a
importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que
faz parte de sua tarefa docente não
apenas ensinar os conteúdos mas também ensinar a pensar certo. Não há
ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no
corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei,
porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando,
intervenho, intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda
não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. É preciso insistir: este saber
necessário ao professor – que ensinar
não é transferir conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por ele e
pelos educandos nas suas razoes de ser – ontológica, política, ética,
epistemológica, pedagógica, mas também precisa ser constantemente testemunhado,
vivido.Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado
mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a
diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença
entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e
socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado. Gosto de ser gente
porque, como tal, percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da
influência das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que
herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito
a ver comigo mesmo. Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições
materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos
achamos geram quase sempre barreias de
difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o
mundo, sei também que os obstáculos não
se eternizam.
Silvano Sulzart
Resumo
elaborado a partir da leitura do Livro Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire.
Referência Bibliográfica:
FREIRE,
Paulo. Pedagogia
da Autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.
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