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3 de março de 2011

EDUCAÇÃO DO CAMPO: MEMÓRIAS E NARRATIVAS

EDUCAÇÃO DO CAMPO: MEMÓRIAS E NARRATIVAS

A educação do campo como instrumento de formação do individuo, precisa mobilizar a permanência do mesmo em seu local de origem de forma sustentável transformando numa condição indispensável para enfrentar os desafios do mundo globalizado. No contexto da educação do campo a escola passa a ser reconhecida como espaço de reflexão da realidade da comunidade local de seu trabalho, suas linguagens, formas de vida e, sobretudo de seu desenvolvimento humano e social. A escuta e o registro das vozes nos processos formativos e de escolarização possibilita rememorar e compartilhar experiências e potencializar práticas no campo pedagógico, ético e político.


Pensar nas narrativas e memórias da Educação do Campo é importante, pois tomar conhecimento dos desafios que a Educação do Campo enfrentou e tem enfrentado, como também romper com o imaginário de que, para viver na “roça”, não há necessidade de amplos conhecimentos socializados pela escola. A Educação do Campo precisa de valorização de investimento, de pesquisa e de políticas públicas, dando enfoque a diversidade de opções de vida, de produção, de consumo e cultura que ao longo dos anos foram deixados de lados pelas autoridades.

Leite afirma que,

A educação rural no Brasil, por motivos sócio-culturais, sempre foi relegada a planos inferiores e teve por retaguarda ideológica o elitismo acentuado do processo educacional aqui instalado pelos jesuítas e a interpretação político-ideológica da oligarquia agrária, conhecida popularmente na expressão: “gente da roça não carece de estudos. Isso é coisa de gente da cidade”. (LEITE, 1999, p. 14):

A Escola do Campo apresenta elementos que necessitam de estudo e pesquisa, como: a sua democratização, a resistência e a renovação das lutas e dos espaços físicos, assim como as questões ambientais, políticas, de poder, cientificas, tecnológicas, sociais, culturais e econômicas que são vivenciadas neste espaço.

Para Arroyo (2001) Olha-se para a Escola do campo hoje, com um olhar onde se desconsidera a memória e as tradições, que devem ser valorizadas e atualizadas no presente, conferindo qualidade às classes multisseriadas brasileiras, tornando o ensino nelas desenvolvido de igual, ou melhor, qualidade do que o das classes seriadas: desafio pretensioso, mas possível.

Desta forma as narrativas, tal qual os lugares da memória, são instrumentos importantes de preservação e transmissão das heranças identitárias e das tradições. Narrativas sob a forma de registros orais ou escritos são caracterizadas pelo movimento peculiar à arte de contar, de traduzir em palavras as reminiscências da memória e a consciência da memória no tempo. As narrativas e memórias, são peculiares, incorporam dimensões matérias, sociais, simbólicas e imaginárias. Plenas de dimensão temporal, e tem na experiência sua principal fonte (BENJAMIN, 1994, p. 98).

Josso (2004) salienta que a escrita narrativa funciona num primeiro plano na perspectiva das competências verbais e intelectuais, porque faz o sujeito entrar em contato com suas lembranças e evocar as “recordações-referências” que esteja implicado com o tema conhecimento de si e formação; fazendo com que este revele o que “aprendeu experiencialmente nas circunstâncias da vida” (JOSSO, 2004: 31). Desta forma a educação desenvolvida nos meios rurais torna-se objeto de discussão dos sujeitos que a compõem,nas narrativas e memórias dos educadores e camponeses, diferentemente de outros momentos, em que a educação rural era objeto de discussão dissociada dos sujeitos sociais que nela atuam.

As narrativas e memórias, são importantes como estilo de transmissão, de geração para geração, das experiências mais simples da vida cotidiana e dos grandes eventos que marcaram da História da humanidade. Para Todorov (1999, p. 26-7) os conceitos e significados da memória são vários, pois a memória não se reduz ao ato de recordar.

Le Golff (1990), afirma que as memórias revelam os fundamentos da existência, fazendo com que a experiência existencial, através da narrativa, integre-se ao cotidiano fornecendo-lhe significado e evitando, dessa forma, que a humanidade perca raízes, lastros e identidades. Segundo Caldart (2000), no contexto histórico da escola do campo, hoje há a necessidade de estruturá-la a partir de uma lógica de desenvolvimento que privilegie o ser humano na sua integralidade de volta ao processo produtivo com justiça, bem estar social e econômico.

Margarida Neves (1998) afirma que,

“O conceito de memória é crucial porque na memória se cruzam passado, presente e futuro; temporalidades e espacialidades; monumentalização e documentação; dimensões materiais e simbólicas; identidades e projetos. É crucial porque na memória se entrecruzam a lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o individuo e a sociedade, o público e o privado; o sagrado e o profano. Crucial porque na memória se entrelaçam registro e invenção; fidelidade e mobilidade; dado e construção; história e ficção; revelação e ocultação.” (NEVES, 1998, p. 218)

Segundo Júlio Pimentel Pinto (1998) “a memória é esse lugar de refúgio,meio história, meio ficção, universo marginal que permite a manifestação continuamente atualizada do passado” (PINTO, 1998, p. 307). Dessa forma, o conceito de memória não é homogêneo e conforma-se por múltiplos significados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

ARELANO, Lisete R. G. A pedagogia da terra: novos ventos da Universidade. In:KRUPPA, Sonia M. Portella(org.). Economia Solidária e Educação de Jovens e Adultos. Inep/MEC. Brasília, DF, 2005.

ARROYO, M. As relações sociais na escola e a formação do trabalhador. São Paulo: Xamã, 1999.

ARROYO, Miguel Gonzáles Galdart, Rosali Salete Galdart, Molina, Mônica Castanga (org). Por uma Educação do Campo: Pretóplolis, RJ: Vozes, 2004.

BAPTISTA, Francisca Maria Carneiro; BAPTISTA, Naidison de Quintella (orgs.).Educação rural: sustentabilidade do campo. Feira de Santana, BA: MOC; UFES:(Pernambuco): SERTA, 2003.

BOBBIO, Noberto. O Tempo da memória. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

BOSI, Alfredo (org.). Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais do que escola. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

CATANI, Denice. Lembrar, narrar, escrever: memória e autobiografia em história da educação e em processos de formação. In: BARBOSA, Raquel Lazzari Leite (Org.) – Formação de educadores: desafios e perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 2003, pp. 119/130.

BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Diário Oficial da União: 23 de dezembro de 1996, seção I, p.27839.

BRASIL. Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação Básica. Diretrizes Operacionais para a educação básica nas escolas do campo, Resolução nº. 3 de abril de 2002.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação continuada, Alfabetização e Diversidade. Programa Escola Ativa – Orientações Pedagógicas para a formação de educadores e educadoras. SECAD/MEC, Brasília, 2009.

JOSSO, M.C. Experiência de vida e formação. Cortez São Paulo. 2004.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.

MATTOS, Ilmar Rohloff (org.). Ler e escrever para contar: documentação,

historiografia e formação do historiador. Rio de Janeiro: Access, 1998.

MENDONÇA, S. Agronomia e Poder no Brasil. Rio de Janeiro: Vício de Leitura, 1999.

NEVES, Margarida de Souza. História e Memória: os jogos da memória. In:FERREIRA, Marieta Morais. História do Tempo Presente: desafios. Cultura Vozes v. 94, n. 3. Petrópolis: Vozes, 2000.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 18ª ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica - Guia para eficiência nos estudos.Atlas.1979.

SCHALLER, Jean Jacques. Lugares aprendentes e a inteligência coletiva: rumo à constituição de um mundo comum. IN: Auto Biografia: Formação, territórios e saberes. SOUZA, Eliseu Clementino e PASSEGGI, Maria da Conceição. Natal, RN: EDUFRN, São Paulo: PAULUS, 2008.

SOUZA, Elizeu Clementino de; MIGNOT, Ana Chrytina Venancio Histórias de Vida e formação de professores. Quartrtet.Rio de Janeiro. 2008.

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