Os livros da coleção “Vivenciando a cultura afro-brasileira e indígena” são apontados pelo Fórum das Entidades Negras de Londrina (Fenel) como reforçador de preconceitos contra os afrodescendentes, entre vários outros problemas.
Segundo o promotor Paulo Tavares, em entrevista à rádio CBN, existe na coleção trechos ofensivos aos negros, "Imagens que deixam, por exemplo, o próprio negro em situação de submissão, humilhação. Não se mostra nenhum negro que tenha alcançado sucesso na sociedade. O conteúdo é altamente preconceituoso, tem um trecho, por exemplo, uma poesia que é trazida 'A borboleta de manhã bem cedo, uma borboleta saiu do casulo, era parda e preta, foi beber no açude viu-se dentro da água e se achou tão feia que morreu de mágoa. Ela não sabia que Deus deu para cada bicho a cor que escolheu, Deus ralhou com ela, mas deu roupa nova azul e amarela'. Com certeza, é algo mais cruel para ser dito a uma criança parda e preta que é natural que ela se ache tão feia que morra de mágoa", afirmou o promotor.
A promotoria consultou vários especialistas para tomar a decisão, como representantes do Fórum de Entidades Negras de Londrina, o Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Estadual de Londrina, a Comissão Universidade para Índios, entre outras. A nota informa que os livros deveriam atender a legislação federal que pretendo combater os preconceitos raciais. “Todos os pareceres de especialistas corroboram que efetivamente o material é nocivo à formação das crianças de 6 a 10 anos, assim como de qualquer idade. A coleção desrespeita a história e a cultura negra e indígena”
Para as outras pessoas envolvidas no caso, o conteúdo da publicação diminuir a importância do indígena e do negro na sociedade brasileira. Para o promotor, o livro contém trechos que deixam os negros em situação de humilhação e submissão.
Erros de gramática, ortografia e conceitual
O material, que é apontado pelo Fórum das Entidades Negras de Londrina (Fenel) como reforçador de preconceitos contra os afrodescendentes, tem vários outros problemas. Os erros de gramática e ortografia prejudicam um material que já é ruim e mal editado. Na página 11 do livro do 2º ano, a colocação indevida de uma crase mudou o sentido da frase “os índios foram às primeiras pessoas a habitar o Brasil”. Com a crase, a frase diz que os índios foram “até” as primeiras pessoas, em vez de serem os primeiros habitantes do país. Em outras partes, frases infelizes confundem a boa intenção dos autores. A legenda de uma foto da página 19 do mesmo livro é um exemplo: “criança africana é como toda criança do mundo”, diz o texto. Na página 38 do 3º livro, o censo demográfico é grafado com “s”: “senso”. Na página 92 do 4º livro, um erro conceitual. Num item dedicado a “personalidades que lutaram e lutam pelas causas dos afrodescendentes e indígenas”, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, é apontado como uma dessas personalidades. Mandela nasceu na África do Sul, o que o coloca fora do conceito de afrodescendente, no qual se encaixam pessoas que descendem de africanos, mas nasceram fora do continente.
Na página 78 do 5º livro, uma frase que irritou o movimento negro de Londrina: o material descreve o movimento como “racista”. Logo em seguida, num “histórico”, diz que a luta contra a escravidão, com “fugas e insurreições”, “além de causarem prejuízos econômicos, ameaçavam a ordem vigente e tornavam-se objeto de violenta repressão”. Na página 48 do mesmo volume, os autores afirmam que os movimentos sociais “existem para organizar populações pobres e reivindicar algum direito ou recurso”. Outro problema da coleção é que as referências bibliográficas são, na sua grande maioria, a internet, em sites como a Wikipédia (uma enciclopédia com a qual qualquer pessoa contribui, o que aumenta o risco de informações incorretas) e blogs, que são sites que têm caráter pessoal, sem compromisso pedagógico.
"Os livros estão pior que nós"
Antes mesmo da manifestação do Fórum das Entidades Negras de Londrina (Fenel), o livro “Vivenciando a cultura afro-brasileira e indígena” provocou constrangimento em escolas da rede municipal. A professora Maria Evilma Alves Moreira, contou que os erros ortográficos e gramaticais do material provocaram risos nos seus alunos da 4ª série. “No momento em que eu comecei a circular vários erros de pontuação, meus alunos estavam indo para a aula de educação física. Eles riram e disseram: ‘[os livros] estão pior que nós”, relatou a professora, explicando que tem o hábito de circular os erros nos textos dos seus alunos.
Maria Evilma afirmou que em algumas escolas o material foi distribuído para os alunos, mas em várias outras, supervisores afirmaram que evitaram a distribuição “porque acharam, no mínimo estranho [o conteúdo]”. “Todo livro didático deve ser uma ferramenta de apoio. Aquele não há professor que conserte”, completou a professora, defendendo o seu recolhimento.
Recolhidos em cinco dias
O Ministério Público pediu que os 13.500 livros da coleção "Vivenciando a Cultura Afro-brasileira e Indígena", da Editora Ética, sejam recolhidos em cinco dias. O conteúdo dos livros foi considerado preconceituoso, inadequado e apresentava erros ortográficos e gramaticais. A denúncia foi feita pelo Fórum de Entidades Negras de Londrina (Fenel) junto à Promotoria de Direitos Constitucionais.
Hernani Francisco da Silva
Fonte: http://negrosnegrascristaos.ning.com/profiles/blog/show?id=2232714%3ABlogPost%3A148470&commentId=2232714%3AComment%3A148917&xg_source=activity
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