Educadores dizem que relacionamento entre alunos é inevitável, mas defendem a adoção de limites e regras
O colégio é o principal lugar onde meninos e meninas se conhecem e começam a se interessar uns pelos outros. Embora a regra geral das escolas seja proibir os namoros, eles existem. O “namoro” na pré-escola é muitas vezes incentivado pelos pais, e a eles ver o casalzinho de mãos dadas lhes parece algo engraçado e ingênuo. Na adolescência, este cenário muda de figura. Aquele romance que antes era uma brincadeira passa então a tirar o sono da família. O principal medo é de que o filho ou a filha se concentre mais no namoro e preste menos atenção nas aulas e nos seus deveres. Para os educadores, o temor maior é o de que os jovens ultrapassem os limites dentro do ambiente escolar.
Mas a dispersão de alunos enamorados não chega a ser um problema nem prejudica a aprendizagem, de acordo com Araci Asinelli da Luz, professora do departamento de Educação da Universi dade Federal do Paraná (UFPR). “Se fosse assim, teríamos a redução significativa de rendimento escolar na adolescência, o que não acontece”. O que pode atrapalhar é quando um relacionamento é rompido e o jovem não quer mais ir à escola para não ver o outro ou pelo medo de se frustrar caso veja o ex-namorado com outra pessoa. “Mas isso é pontual, não acontece sempre e pode ser usado como exemplo para mostrar que ele pode sair das dificuldades e aprender com elas”, diz a psicóloga Lídia Aratangy, que escreveu vários livros sobre o assunto, como Pais que Educam Filhos que Educam Pais pela Celebris Editora e Olho no Olho: orientação sexual para pais e mestres, pela Editora Olho d’Água.
Embora o namoro seja considerado pelos psicólogos uma prática saudável para os adolescentes, a maioria das escolas – tanto públicas quanto particulares – não permite o mínimo contato físico: nem beijos selinhos, nem andar de mãos dadas. Para as coordenações pedagógicas a proibição tem o objetivo de evitar o abuso pelos jovens. “Se abrimos alguma brecha, sabemos que fica mais difícil controlar, já que eles estão com os hormônios à flor da pele”, diz a educadora sexual do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilelo, uma ONG nacional que trabalha com orientação sexual para adolescentes.
Na Escola Atuação, a proibição está no regimento escolar. A diretora Esther Cristina Pereira conta que promove bailes que servem para que os alunos se conheçam melhor, mas que a instituição não é ambiente para o namoro, inclusive porque até a oitava série os alunos ainda convivem com as crianças menores e devem servir como exemplo. “Assim que fazem a matrícula os pais são avisados sobre essas restrições e a maioria deles concorda.”
A pedagoga Sara Cristina do Rocio Bueno tem duas filhas matriculadas na escola, uma de 9 e outra de 14 anos, e conta que aceita a proibição. “Escola não é lugar para namorar, para ter contato físico. Acho certo proibir porque se o namoro for liberado, é dada margem para o resto”. A filha mais velha, Fernanda Cristina, não namora na escola, mas conheceu um menino no curso de inglês e está com ele há dois meses. A preocupação da mãe é com o “ficar” dos jovens. Para ela, namoro tem de ser com um só e na idade certa . “Se ela sabe o que quer, eu apoio. Mas conversamos muito sobre o assunto e insisto o tempo todo que ela pode namorar, desde que mantenha o mesmo ritmo de estudos. Se decair, é preciso controlar o namoro”, diz ela.
Liberado, mas com moderação
Poucas escolas permitem o relacionamento entre alunos e mesmo assim com muito controle. No ensino médio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) os alunos namoram com moderação. Nada de abraços ou beijos fortes.
Além das câmeras de segurança que ficam espalhadas pelos corredores, os inspetores, conhecidos no local como assistentes de alunos, ficam prontos para registrar ocorrência caso alguém desrespeite as regras. Quando ela se repete, os pais dos alunos são chamados. “Claro que mesmo assim os estudantes dão um jeito de burlar. Aí eles acham seus lugares escondidos, como o grêmio estudantil, o auditório, a cantina e um banco redondo amarelo que fica no canto do pátio, conhecido como queijinho”, conta o professor Antônio Neri Bonato, diretor pedagógico responsável pelos assistentes de alunos. Até o final do primeiro semestre, apenas 14 alunos receberam ocorrência por abusar no namoro na UTFPR.
O casal Raíssa Mariana da Silva, 17 anos, e Bruno Rafael Ritter, 16, que cursa o segundo ano do ensino mé dio, se conheceu no pátio da UTFPR. Eles conhecem bem as regras do local e sabem que os inspetores estão de olho principalmente nos lugares mais escondidos. “Uma vez um deles chamou nossa atenção porque eu estava deitado no colo dela”, conta o rapaz.
Quando a relação ajuda
Namorar na escola também pode servir como um incentivo para aumentar as notas. Lídia diz que alguns podem se sentir mais motivados a ir ao ambiente escolar quando sabem que lá vão encontrar alguém de quem gostem. “Querer mostrar para o outro um bom desempenho faz com que eles se dediquem mais”, conta.
O estudante do segundo ano do ensino médio, Wellington Garbos Bandeira da Silva, 17 anos, já reprovou e até ano passado suas notas eram ruins. Mas a situação mudou quando começou a namorar Nicole Ramos de Camargo, 16 anos. Os dois estudavam na mesma sala no Colégio Adventista e neste ano mudaram juntos para outra escola, o Acesso. “Ele passou quase um ano querendo namorar comigo, mas estava indo muito mal na escola. Então eu disse que só aceitaria se ele passasse de ano”, diz a garota. Foi o que aconteceu. Além de ser aprovado, ele começou a se dedicar mais. “Eu o cobro o tempo todo. Mando copiar as tarefas do quadro e grifo os pontos mais importantes na apostila dele. Mas também ganho com isso, porque quando ensino, aprendo mais”, diz Nicole.
Fonte: Gazetadopovo
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Namorar na escola, pode?
Educadores dizem que relacionamento entre alunos é inevitável, mas defendem a adoção de limites e regras
A adolescência é a fase das descobertas e experiências. Nessa idade tudo é novidade e não é fácil conter os impulsos naturais típicos dos jovens. Superada a fase em que as crianças têm "horror" ao sexo oposto, surge o momento de encantamento pelo outro. É nessa hora que a identidade sexual começa a se definir, e os namoricos com beijos e mãos dadas são apenas o começo. Mas o que acontece quando os adolescentes decidem viver uma paixão dentro da escola?
Juntos há um ano, Nathália Oshiro Okawa, 14, de Kandatsu (Ibaraki), e Edson Issao Yorioka, 17, de Joso (Ibaraki), sabem bem o que é isso. "Os alunos menores viram que estávamos juntos e contaram para os professores. Levamos bronca deles, e no começo todos ficavam muito no nosso pé", lembra Nathália, estudante do nono ano do ensino fundamental. "Não tiramos a razão deles. Aqui é uma escola, não um lugar para namorar", acrescenta Edson, aluno do segundo ano do ensino médio.
Foi por causa dessa consciência que o casal ganhou a confiança dos professores e da direção do colégio onde estudam, a Escola Pingo de Gente, de Ibaraki. "Hoje, é diferente. Mostramos que temos consciência de que temos um limite, de que precisamos respeitar as regras da escola e que precisamos ser discretos por causa dos alunos pequenos", diz ele.
Mas apesar dessa confiança, nada impediu que o casal levasse sermões por causa de "pegações". Nathália confessa que já foram pegos em flagrante numa troca de carinhos. "Levamos uma bronca para não fazermos mais isso", conta. Por morarem em cidades diferentes, a escola é um dos únicos lugares que o casal pode se encontrar. "Ter a namorada na mesma escola é bom, dá para ver sempre", revela Edson.
PERMITIR OU PROIBIR?
Entre os educadores ouvidos pelo International Press há consenso de que namoro na escola é inevitável, desde que sejam respeitados os limites determinados pela direção. "Ficar e gostar de alguém e isso ser recíproco é a coisa mais gostosa da vida. Não podemos reprimir isso dentro do âmbito da escola, mas os alunos sabem que não podem escancarar, com beijos na boca, por exemplo. Admitimos o namoro, mas de forma mais comportada", revela Maria Shizuko Yoshida, diretora da Escola Pingo de Gente, de Shimotsuma (Ibaraki).
As regras das escolas são parecidas, mas o que varia é a intensidade do acompanhamento dos alunos. "Não proibimos. Pelo menos aqui, não temos a necessidade da vigilância. Os alunos estão conscientes do papel deles e isso facilita muito o nosso lado", afirma Francisco Pereira França Neto, diretor do Colégio Pitágoras no Japão.
Já na Escola Pingo de Gente, por exemplo, todos os professores fazem a "fiscalização" dos estudantes em todos os ambientes do colégio. "Os alunos ficam o dia todo na escola e isso exige uma vigilância mais intensa e freqüente, principalmente nos horários livres, como intervalos e almoço", explica a diretora Maria Shizuko. "Trabalhar com jovens é uma responsabilidade grande e a partir do momento que aceitamos ter eles no nosso ambiente de trabalho é preciso ter toda uma estrutura para acompanhá-los", acrescenta ela.
A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO
O diálogo nesses momentos é essencial. "Quando verificamos que surge um casal na escola, chamamos eles, conversamos e reforçamos as regras que eles já sabem. Conversamos também com os pais, para que eles também estejam cientes", justifica Maria Shizuko.
Sandra Minamoto, vice-diretora do Instituto Educacional Centro Nippo Brasileiro, de Oizumi (Gunma), compartilha a mesma opinião. "Não tem como proibir que exista, o que não permitimos é a manifestação dentro da escola. Conversamos abertamente com eles e dizemos a importância de preservarem a relação e que ninguém precisa assistir as manifestações de carinho".
No Japão, pelo fato dos alunos passarem mais tempo no ambiente escolar do que com os próprios pais, a relação entre professores e alunos é muito mais próxima, o que facilita o diálogo. "Aqui todos se conhecem, ao contrário do que ocorre no Brasil. É difícil não perceber isso, ou seja, acabamos fazendo uma vigilância maior dos alunos do que a realizada pelos próprios pais", analisa Sandra.
ESCOLAS JAPONESAS
Enquanto o assunto de namoro é discutido com naturalidade nas escolas brasileiras, nos colégios japoneses a questão quase não é comentada. "Pelo menos nos dois anos em que fui professora do chuugakkoo, nunca ouvi comentários sobre a questão de namoro na escola. Os japoneses são mais reservados, ao contrário de nós brasileiros que vemos essa questão com mais naturalidade", nota a professora e pesquisadora Nilta dos Santos Dias. "Nunca vi algum caso de namoro nesse período, mas percebo que não há abertura para isso", completa.
A professora observa que os adolescentes brasileiros, principalmente as garotas, começam a explorar mais cedo a vaidade e a sensualidade, ao contrário dos japoneses. "Os alunos japoneses da quinta e sexta série do shoogakkoo e do chuugakkoo, por exemplo, ainda são muito infantis, ao contrário dos brasileiros", relata.
Fonte: http://www.ipcdigital.com/br/Vida-no-Japao/Educacao/Escola-japonesa/Namoro-na-escola-pode
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